segunda-feira, 31 de maio de 2010

Quase metado dos médicos receitam o que fábrica indica

Quase metade dos médicos receita o que fábrica indica


Dados são de pesquisa inédita do Conselho Regional de Medicina de SP



Quatro em cada cinco médicos recebem visita de fabricantes; desses, 48% indicam remédios sugeridos pela indústria



João Brito - 27.mai.2010/Folhapress



Visitantes com brindes na feira Hospitalar; pesquisa revela que 93% dos médicos receberam benefícios de empresas



CLÁUDIA COLLUCCI

DE SÃO PAULO



Quase metade (48%) dos médicos paulistas que recebem visitas de propagandistas de laboratórios prescreve medicamentos sugeridos pelos fabricantes.

Na área de equipamentos médico-hospitalares, a eficácia da visita é ainda maior: 71% dos profissionais da saúde acatam a recomendação da indústria.

Os dados, obtidos com exclusividade pela Folha, vêm de uma pesquisa inédita do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de SP), que avaliou o comportamento médico perante as indústrias de remédios, órteses, próteses e equipamentos médico-hospitalares.

Feito pelo Datafolha, o levantamento envolveu 600 médicos de várias especialidades, que representam o universo de 100 mil profissionais que atuam no Estado.

Do total, 80% deles recebem visitas dos propagandistas de medicamentos -em média, oito por mês.

A pesquisa revela que 93% dos médicos afirmam ter recebido, nos últimos 12 meses, produtos, benefícios ou pagamento da indústria em valores até R$ 500.

Outros 37% declaram que ganharam presentes de maior valor, desde cursos a viagens para congressos internacionais.



RELAÇÃO CONTAMINADA

Para o Cremesp, um terço dos médicos mantém uma "relação contaminada com a indústria farmacêutica e de equipamentos, que ultrapassa os limites éticos".

"Para boa parte [dos médicos], a única forma de atualização é a propaganda de laboratório. E com ela vem os presentes, os brindes. Isso tomou uma dimensão maior, mais promíscua, quando as receitas passaram a ser monitoradas", diz Luiz Alberto Bacheschi, presidente do Cremesp.

Em 2005, a Folha revelou que, em troca de brindes ou dinheiro, farmácias e drogarias brasileiras auxiliavam a indústria de remédios a vigiar as receitas prescritas por médicos.

Com acesso a cópias do receituário, representantes dos laboratórios pressionavam os profissionais a indicar seus produtos e os recompensavam por isso.

A prática não é ilegal, mas é considerada antiética. Afinal, quem pode pagar essa conta é o paciente. "Na troca de favores, o médico pode receitar um medicamento que tenha a mesma eficácia clínica do que o concorrente, mas que custa mais caro", explica o cardiologista Bráulio Luna Filho, coordenador da pesquisa do Cremesp.



APOIO

A maioria dos médicos (62%) avalia de forma positiva a relação com a indústria.

Para 73% deles, os congressos científicos não se viabilizariam sem apoio da indústria de medicamentos e de equipamentos.

Luna Filho pondera que, com a internet, o acesso a informações médicas está universalizado. "Essa conversa de que médico tem que ir para congresso no exterior para se atualizar é balela. Ele vai é para fazer turismo."

Existem várias normas -inclusive um artigo no novo Código de Ética Médica, uma resolução da Anvisa e um "código de condutas" da associação das indústrias- que tentam evitar o conflito de interesses na relação entre médicos e laboratórios.

"O problema é que não existe um controle rigoroso de nenhuma das partes", diz Volnei Garrafa, professor de bioética da UnB.





Folha de São Paulo, 31/05/2010

domingo, 30 de maio de 2010

Dançarinas de Tv se prostituem por até 20 mil

PF investiga prostituição de garotas de TV


Esquema descoberto pela Polícia Federal pagava até R$ 20 mil para dançarinas e modelos se prostituírem



Escutas revelam que mulheres eram levadas inclusive para outros países onde realizavam programas sexuais



FLÁVIO FERREIRA

DE SÃO PAULO



O cliente do Paraná liga e diz que quer sair com "alguém consagrado". A agenciadora cita os nomes de uma modelo, de uma dançarina de um programa de TV, de uma ex-capa de revista masculina. E lista os preços: R$ 6.000, R$ 4.000...

Em outra ligação, uma famosa assistente de palco de TV relata a uma agenciadora detalhes do programa que lhe rendeu R$ 10 mil.

Diálogos interceptados pela Polícia Federal mostram que uma rede de prostituição de luxo, descoberta em uma operação de 2009, intitulada Harém, cooptou modelos, atrizes e dançarinas de programas de TV, oferecendo cachês de até R$ 20 mil.

A Operação Harém chegou a ser divulgada pela PF no ano passado, mas agora a Folha teve acesso às escutas que mostram detalhes do filão mais lucrativo da quadrilha: o das "famosas" da TV e de revistas. E também de seus principais clientes: políticos, empresários e jogadores de futebol.

Em uma das gravações, um agenciador diz que um governador está interessado em uma dançarina de um programa de TV. Outra aliciadora diz que não seria possível, pois ela estava "namorando um playboyzinho".

Em outra escuta, uma paulista que já posou várias vezes para revistas masculinas e é destaque de escolas de samba foi enviada à França pelo grupo para atender a um jogador de futebol francês. Ganhou R$ 6.000.

O preço mais alto discutido pelos agenciadores grampeados pelos agentes da Polícia Federal foi de cerca de R$ 20 mil. Eles negociaram uma a noite com uma mulher casada e com filhos.

Nas escutas, os aliciadores citam também muitas mulheres que consideram impossíveis ou difíceis de serem cooptadas pela rede de prostituição de luxo.



INVESTIGAÇÃO

Das 12 mulheres indicadas como testemunhas de acusação pelo Ministério Público, três frequentam as telas da TV e duas já foram capa de revistas masculinas.

O caso da modelo que foi para França foi usado nos relatórios da PF para comprovar que os aliciadores cometeram crimes de tráfico internacional de pessoas para exploração sexual.

De acordo com a PF, o esquema era liderado por Yzamak Amaro da Silva, conhecido como "Mazinho", e Luiz Carlos Oliveira Machado, o "Luiz da Paulista".

Ao todo, 11 pessoas foram denunciadas à Justiça por quatro crimes ligados à exploração da prostituição, além de formação de quadrilha. As penas podem chegar a 26 anos de prisão.

O processo criminal do caso está na fase de depoimento de testemunhas.

Como a prostituição não é crime, nem as garotas nem os clientes foram denunciados, e a Folha decidiu não publicar seus nomes.


Folha de São Paulo, 30/05/2010

Incentivos para a classe média

Classe média pode deduzir do imposto de renda gastos com saúde. Estima-se em 14 bilhões anuais as deduções - FSP 30/05/2010.


Universidade estatal com apenas 27,5 de presença de alunos da rede pública.


Empregadas domésticas com menos direitos


Serviçais a preço de banana

Maleabilidade da polícia, cortesias.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Subsidamos os planos, afirma médico

"Subsidiamos os planos", afirma médico


DE SÃO PAULO



O ginecologista e obstetra Sérgio Passos, 62, que tem consultório em São José dos Campos (SP), diz que os médicos acabam subsidiando os planos de saúde.

"No último mês do pré-natal, a grávida precisa vir ao consultório quase uma vez por semana. Os planos dizem que só pagam uma consulta a cada 30 dias. O que as operadoras dizem? "O problema é seu'", afirma"

Segundo ele, os planos menores pagam pela consulta de R$ 20 a R$ 27. E, por causa do valor, ele se descredenciou dessas operadoras.

"Como se mantém um consultório assim? Atendo apenas às seguradoras, que pagam R$ 45 por consulta. E esse valor ainda é pouco. Pela consulta particular, cobro R$ 150", afirma.

Passos, que é formado pela Unicamp, afirma que o maior problema são os partos. Em São José, diz, 90% das operadoras pagam R$ 270 pelo procedimento.

"Imagine se o parto dura dez horas. Não há profissional, encanador ou instalador de ar-condicionado que aceite trabalhar por R$ 27 a hora", compara.

No lugar dos 25 partos por mês de antigamente, Passos hoje realiza quatro.

"O recém-formado não quer obstetrícia. Além dos baixos valores, existe um risco duplo no parto -o da mãe e o do bebê. O recém-formado quer cirurgia plástica. Sabe por quê? Porque o plano não paga plástica."



Folha de 27/05/2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Ideias para piorar o trânsito

Ideias para piorar o trânsito




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Tanques, caminhões, carros blindados: há uma espécie de militarização visual da vida urbana

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DESDE O TEMPO em que eu andava de patinete (mas não me lembro de ter andado de patinete), ouço a teoria de que é preciso estimular o transporte coletivo. Que o trânsito só vai ter solução quando as pessoas deixarem o carro em casa.

Depois de crescido, tornei-me um daqueles que não vão a pé nem para comprar pão na padaria da esquina (mas não costumo ir à padaria).

Percebi logo a vantagem imensa de andar de carro, mesmo num congestionamento: é a sensação de privacidade, de proteção, o que mais me prende ao uso do automóvel.

"Nunca saí de casa sem ter levado porrada"" disse o escritor Pedro Nava, num momento de amargura. Embora isso também aconteça com quem dirija, há um pouco mais de segurança dentro de nossa armadura individual, feita de ferro e borracha, blindada ou não, mas sempre sobre rodas.

Os anos Lula serão lembrados, no futuro, entre outras coisas, como aqueles em que a classe alta adquiriu o gosto por dirigir caminhões e tanques de guerra.

Antigamente, o status social se media pelo comprimento dos automóveis: limusines, galaxies, rabos de peixe.

Hoje, talvez com mais coerência, o status se mede pela altura. Pajeros, Land Rovers e coisas parecidas circulam pelo asfalto das cidades, como se desbravassem amazônias já desmatadas. Alguém, que não consigo ver, me ignora do alto da cabine.

E me impede de ver, também, se o sinal lá na frente mudou de cor, se há algum carro enguiçado na esquina ou mesmo se, dentro do próprio caminhão do qual me aproximo com cuidado, existe um motorista.

Tanques, caminhões ou carros blindados (mas o meu carro é blindado também), não importa: há como que uma ruralização, que também é uma militarização, visual da nossa vida urbana.

Os carros já tinham prioridade sobre o pedestre. De uns tempos para cá, o cenário das cidades vai deixando de ter até aparência civil.

Para diferenciar-se do motoqueiro plebeu, os pilotos de Harley Davidson e outras máquinas usam capacetes da Segunda Guerra. Jovens, mesmo os mais pacíficos, aderiram aos coturnos e se cobrem com rebites de metal.

Não por acaso, são os manobristas e os seguranças quem mais parecem seguir o figurino clássico (paletó e gravata) do cidadão "de bem". Esqueci-me dos políticos, mas vá lá. Muitos burgueses -no velho sentido de "habitantes do burgo"- vestem-se hoje como lenhadores ou sitiantes.

Leio agora que a prefeitura pretende proibir o estacionamento na maior parte das ruas do chamado "centro expandido" Aprovo a medida, como um fumante que torcesse pela proibição do cigarro nos restaurantes ou um alcoólatra entusiasta do uso do bafômetro.

Sou viciado em andar de carro e sei do pequeno efeito das campanhas de cidadania sobre mim. Convenci-me de que o mero estímulo ao uso do transporte coletivo (mesmo se fosse facílimo e de boa qualidade) não mudaria a atitude das pessoas como eu.

Não é que o transporte público deva melhorar apenas. A vida de quem recorre ao transporte individual é que vai ter de piorar (ainda mais) para que um bom número de automóveis fique na garagem.

Eis, aliás, um fenômeno que comprova as velhas leis da oferta e da procura, assim como a crença liberal na "mão invisível do mercado": conheço pessoas que já desistiram de ter carro em São Paulo.

Adaptam a vida a uma área menor da cidade, andam a pé, pedem carona, aprendem o trajeto de um ônibus e o caminho da melhor calçada. Num passe de mágica, o inferno do trânsito deixou de lhes dizer grande respeito.

Invejo-os, como um drogado que admira os recuperados do seu vício.

Tenho esperanças, assim, na proibição do estacionamento nas ruas de São Paulo -mais justa, aliás, que a ideia do pedágio urbano. Não porque vá melhorar o trânsito. Mas porque tornará mais cara e difícil a vida do motorista.

Também torço pela derrubada do minhocão. Quem sabe um trenzinho silencioso, entre canteiros verdes, recompensasse com beleza a vida dos que moram com o nariz naquele elevado.

A medida pioraria o trânsito? Bem provável que sim. Mas talvez o trânsito deva mesmo ser piorado. Quem sabe é a dose que me falta para abandonar o vício.



Folha de São Paulo, 26/05/2010

sábado, 22 de maio de 2010

Padre algema jovem para sexo

Padre é acusado de criar "masmorra erótica" no Rio


DA SUCURSAL DO RIO



O padre polonês Marcin Michal Strachanowski, 44, acusado de transformar a casa paroquial da igreja Divino Espírito Santo, em Realengo (zona oeste do Rio) numa "masmorra erótica", se apresentou ontem à noite, após a Justiça decretar sua prisão.

Segundo a Promotoria, em 2007, ele teria algemado um jovem de 16 anos a uma cama e feito sexo oral nele, na casa paroquial.

O juiz Alexandre Teixeira escreveu que o acusado levava jovens à casa "para transformá-la numa espécie de "masmorra erótica", onde submetia estes jovens, inclusive com algemas, a orgias." A Folha não conseguiu ouvir o padre nem a arquidiocese.



Folha, 22/05/2010

Presidente do Chile promete prêmio a casais que chegarem aos 50 anos de matrimônio

GUSTAVO HENNEMANN


DE BUENOS AIRES



Os casais chilenos que completarem 50 anos de matrimônio ganharão um prêmio do governo por fortalecerem a instituição familiar.

O anúncio foi feito ontem pelo presidente do Chile, Sebastián Piñera, católico conservador que integra o partido de centro-direita Renovação Nacional.

O plano foi divulgado durante a primeira prestação de contas ao Congresso do mandatário, que tomou posse no último mês de março.

Em seu discurso, ele citou Deus cinco vezes e disse que o Chile está em dívida com as famílias, o que exige medidas urgentes para "proteger e fortalecer" os lares do país.

"Estudamos a chance de dar incentivos tributários e prêmios educativos às famílias com mais de dois filhos e premiaremos com um bônus de bodas de ouro os casais que completarem 50 anos de casamento", disse o presidente.

Ele não disse qual será o valor do prêmio nem como pagará a recompensa.

Piñera também prometeu aumentar os valores repassados a famílias pobres por meio de programas sociais, com o objetivo de estimular os casais a terem mais filhos.

"Não podemos seguir indiferentes ante à diminuição da natalidade e dos casamentos, nem ao fato de nascerem mais crianças fora do que dentro do matrimônio."

Ele disse ainda que a família, além de formar cidadãos, é o melhor caminho para fortalecer valores, evitar a droga, a delinquência e o alcoolismo.

Durante a prestação de contas, realizada no Congresso chileno, em Valparaíso, o presidente também fez um balanço parcial do plano de reconstrução do Chile, atingido por um forte terremoto no dia 27 de fevereiro.

Segundo o presidente, os prejuízos alcançaram US$ 30 bilhões, o equivalente a 18% do PIB chileno. No entanto, todas as escolas e hospitais danificados já estão em funcionamento novamente.

Folha de São Paulo, 22/05/2010

1 em cada 7 brasileiras de 18 a 39 anos já fez aborto


São 5 milhões de mulheres, segundo pesquisa nacional inédita do Ministério da Saúde

"Pesquisa mostra a cara da mulher que aborta. Não é uma outra, é uma de nós. É a nossa colega, a nossa vizinha, a nossa irmã", diz coordenadora

Rodrigo Capote-20.mar.2010/Folha Imagem

Protesto em março reuniu milhares contra projeto pró-aborto, em SP; pesquisa diz que 5 milhões de mulheres já abortaram no país

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma em cada sete brasileiras de até 40 anos já fez aborto, um número aproximado de 5 milhões de mulheres. Na faixa etária de 35 a 39 anos, a proporção é ainda maior: uma a cada cinco já decidiu abortar.
É o que revela uma pesquisa nacional inédita, financiada pelo Ministério da Saúde e realizada pelo instituto Ibope.
No total, foram ouvidas 2.002 mulheres entre 18 e 39 anos, das capitais brasileiras e de municípios acima de 5.000 habitantes. Foram excluídas as que vivem na zona rural e as analfabetas -454.374 brasileiras, segundo o IBGE.
O estudo mostra que 48% das mulheres que abortaram usaram algum medicamento e que 55% delas ficaram internadas em razão do procedimento.
O aborto é mais frequente entre as mulheres com baixo nível de escolaridade: 23% daquelas com até o quarto ano do ensino fundamental, contra 12% entre as que concluíram o ensino médio.
A proporção de mulheres que fizeram aborto cresce de acordo com a idade. Vai de 6% (dos 18 aos 19 anos) a 22% entre as de 35 a 39 anos.
"A pesquisa mostra a cara da mulher que aborta. Não é uma outra, é uma de nós. É a nossa colega, a nossa vizinha, a nossa irmã, a nossa mãe. Geralmente, tem companheiro e segue uma religião", afirma a antropóloga Débora Diniz, professora da UnB (Universidade de Brasília) e uma das coordenadoras da pesquisa.

Religião
Na pesquisa, não foram observadas diferenças entre mulheres que pertencem a grupos religiosos distintos.
Para o ginecologista Thomaz Gollop, professor livre docente pela USP, os resultados da pesquisa revelam que os dogmas religiosos estão totalmente dissociados daquilo que acontece na sociedade e que a criminalização do aborto não impede que milhares de mulheres continuem adotando a prática.
Margareth Arrilha, diretora-executiva da CCR (Comissão de Cidadania e Reprodução), afirma que os dados refletem que as mulheres continuam abortando e não encontram respostas nas políticas públicas de saúde. "Estamos vivendo um retrocesso em todas as esferas, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário", afirma.
O projeto que trata da descriminalização do aborto está parado na Câmara. A ação que discute se a mulher tem ou não direito a interromper a gravidez em caso de fetos anencéfalos (sem cérebro) ainda não foi votada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). E, recentemente, o governo federal retirou o apoio à descriminalização do aborto do Plano Nacional de Direitos Humanos.
O médico Adson França, assessor especial do Ministério da Saúde, diz que a pesquisa reafirma que o aborto é uma questão de saúde pública, "como o ministério tem repetido inúmeras vezes".
França afirma que a pasta atende hoje 34,5 milhões de usuárias do SUS com todos os métodos anticoncepcionais. Isso, diz ele, já começa a refletir no número de abortos.
De 2003 para 2009, houve uma queda de 16,6% no total de curetagens (de 240 mil para 200 mil), a maioria por conta de abortos provocados.

Abortos
Os dados da pesquisa não permitem estimar o número de abortos no país. "É seguramente maior do que o número de mulheres que abortam porque uma mesma mulher pode ter feito mais de um aborto. O número também sobe se as áreas rurais e a população analfabeta forem computadas", explica Débora Diniz, da UnB.
Segundo ela, as analfabetas foram excluídas porque não poderiam preencher o questionário das suas entrevistas, e a zona rural, pelo alto índice de analfabetismo entre mulheres.


Folha de São Paulo, 22 de maio de 2010

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Tornozeleira para preso vai à sanção de Lula


Tornozeleira para preso vai à sanção de Lula
Senado aprovou projeto que permite o monitoramento eletrônico de condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto

Dispositivo indica dados como distância, horário e a localização do detento e já é usado em países como EUA, França e Portugal

NOELI MENEZES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Senado aprovou ontem projeto que permite a monitoramento eletrônico -tornozeleira ou pulseira- do condenado que cumpre pena em regime aberto. A medida altera a Lei de Execução Penal e pode ser adotada por decisão de juiz. O projeto vai à sanção presidencial.
O mecanismo indica a distância, o horário e a localização de seu usuário e outras informações que permitem a fiscalização do condenado.
Para o relator do projeto na Comissão de Constituição de Justiça do Senado, Demóstenes Torres (DEM-GO), o uso de pulseira ou tornozeleira "não representa nenhuma ofensa ao princípio do respeito à integridade física e moral do preso".
Segundo ele, o dispositivo viabiliza a concessão de benefícios penais aos condenados. Poderá ser adotado por juízes em caso de regime aberto e semiaberto ou progressão para esses regimes, de suspensão condicional de pena e de saídas temporárias no semiaberto.
A pulseira ou a tornozeleira pode ainda ser utilizada no regime fechado, quando o juiz entender necessário, aplicando-se também a pena restritiva de direito que limite horários ou frequência de um condenado a determinados lugares.
O condenado que receber esse tipo de controle terá que fornecer o endereço da família a ser visitada e onde poderá ser encontrado enquanto estiver usufruindo o benefício.
À noite, o preso tem que se recolher à casa da família visitada. É proibido de frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos similares. Para frequentar curso profissionalizante, de ensino médio ou superior, ele só poderá se manter fora o tempo necessário para a realização das atividades.
O autor da proposta, senador Magno Malta (PR-ES), citou o uso do dispositivo, com sucesso, em países como EUA, França e Portugal, mencionando "a melhoria da inserção dos condenados, evitando-se a ruptura dos laços familiares e a perda do emprego, a luta contra a superpopulação carcerária e a economia de recursos".

Folha de São Paulo, 20/05/2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

Plano de aula - 1 ano - 1 bimestre

Tema: do senso comum à consciência sociológica

1- todos pensamos, mas nossas reflexões são de má qualidade, embasadas no senso comum
2- senso comum é uma forma de pensar cheia de defeitos, não científica.
3- sociologia estuda e pensa, compreende a sociedade. Pensar científico sobre a realidade social
4- sociologia nasce em momento de enormes transformações, como uma nova forma de pensar a nova realidade social nascente.


Avaliação: acompanhamento das atividades, prova questões dissertativas, texto reflexivo, relatório de aula.

Plano de aula - 2 ano - 1 bimestre

Temática da diversidade
Brasil possui diversidade material: renda, educação, condições materiais em geral. Diversidade por faixa, classe, gênero, Estados, regiões, cidades

Há enorme diversidade cultural: impacto da migração: lingua, costumes, dialetos, musica, vestimenta, fisionomia, alimentos, arquitetura

Conceitos: aculturação/assimilação, estrangeiro do ponto de vista sociológico, estabelecidos e outsiders.

avaliação: texto interpretivo sobre diversidade material no país, resumo de texto sobre migração e seus impactos, prova múltipla escolha, visto sobre atividades feitas.

Plano de aula - 3 ano - 1 bimestre

Cidadania: origens e diferença entre a cidadania antiga e moderna
Tipos de direito: sociais, políticos, civís e humanos
Evolução da cidadania no Brasil, atrasos e avanços
Cidadania negada

Filmes: documentários MST, greve de 2000 e O Dia em que Dorival encarou a guarda.


Avaliação: seminário, pesquisas, redação, prova múltipla escolha.

Em que a sociologia pode nos ajudar?


Clicando aqui http://www.cpflcultura.com.br/video/integra-estranhamento-desconforto-em-relacao-ao-mundo-real-maria-alice-r-de-carvalho pode-se acessar a palestra de Maria Alice Rezende de Carvalho, dentro de um módulo sobre como a sociologia pode nos ajudar a enfrentar a crise global.




A partir da ideia de que a sociologia nos ajuda a pensar e compreender o mundo real, a palestrante desenvolve interessante argumentação sobre missões da sociologia.




O video é um dos vários que são disponibilizados no site da CPFL Cultura.


Aqui: http://www.cpflcultura.com.br/posts/videos

Curso de Sociologia Online

A Fundação Getúlio Vargas, uma das instituições de ensino privadas de maior mérito no país, se não for a maior, participa de um movimento global que busca a proliferação de cursos on line de forma gratuita. A prática é bem mais comum no exterior, onde universidades desenvolvem cursos para difusão sem fins lucrativos. Por sorte, dos vários cursos oferecidos gratuitamente temos o de sociologia, que é bem interessante e de qualidade, dando um panorama geral daquilo que se aprende nas universidades.


Recomenda-se aos alunos de primeiro ano cursarem o 1° módulo: Origens e Espaços da Sociologia; aos alunos do segundo recomenda-se o módulo 3: Cultura e Sociedade; por fim, aos alunos do terceiro ano cabe o módulo 2: Cidadania e Direitos.

Curso está em: http://www5.fgv.br/fgvonline/ocw/OCWSOCEAD/index2.htm

Quem tiver CPF poder adquirir certificado se fizer o curso todo. Há avaliações, também on line.

Potencialidades da Sociologia

Em nossa primera aula trabalhamos sobre as potencialidades da sociologia.

1- Ensino de sociologia ajuda a desenvolver a imaginação sociológica, que é a capacidade de relacionarmos nossas histórias pessoais com o contexto social, percebendo como nossas vidas não são peças soltas no vazio, mas elementos de um todo maior que é determinante do tipo de vida que vivemos, daquilo que somos.

2- Existe uma quantidade enorme de pessoas que possuem formação em sociologia ou estebelecem relações de afinidade com ela. Nosso ex presidente Fernando Henrique Cardoso e Barack Obama são uns dos exemplos. Há ainda muitos juristas, advogados, economistas, educadores, jornalistas e gente de várias profissões que estudam ou estudaram sociologia como forma de complementar e diferenciar as suas formações.

3- A sociologia, assim como a psicologia e outras mais, é uma ciência do século XIX, por volta de 1840. Não é tão antiga quanto a matemática e a filosofia, ramos milenares, mas também não é tão nova quanto a biotecnologia.

4- A sociologia procura estudar as interações sociais, a sociedade. Um conhecimento sobre o meio social é de extrema importância para vários setores, sendo utilizado pelo Estado em várias áreas como saúde, educação, segurança, urbanismo; também usado pelas empresas, pela mídia, no desenvolvimento de jogos etc. Um conhecimento sobre a realidade social é também necessário aos partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais.

Padre acusado de dirigir quase nú e bêbado...

Padre acusado de dirigir quase nu e bêbado deixa a prisão
Segundo advogado, ele tirou a batina porque havia vomitado

DA AGÊNCIA FOLHA

O padre Silvio Andrei Rodrigues, 40, acusado de ato obsceno, corrupção ativa e embriaguez ao volante, foi libertado ontem à tarde do Centro de Detenção e Ressocialização de Londrina (379 km de Curitiba).
Preso anteontem em Ibiporã (região metropolitana de Londrina), ele é acusado também de propor sexo oral a um PM ao ser abordado quando dirigia vestindo apenas uma camisa.
O juiz Sérgio Aziz Neme acatou pedido de liberdade provisória. Conhecido por suas apresentações na emissora católica TV Canção Nova, Rodrigues é sacerdote de uma paróquia no Ipiranga, zona sul de São Paulo. Estava em Londrina -atuou na região por mais de dez anos- para celebrar um casamento.
No auto de prisão, os PMs disseram que o padre ofereceu R$ 490 para não ser preso, que estava embriagado e que havia uma garrafa com cachaça no carro. O advogado dele, José Adalberto Cunha, 47, negou.
Segundo ele, o padre retirou a batina porque vomitou. ""Ele toma antidepressivos e bebeu vinho no casamento, perdeu a memória, passou mal e vomitou." A arquidiocese de São Paulo disse que ""recebeu com perplexidade" a notícia e que espera a apuração dos fatos.

O Homem Comum

LUIZ FELIPE PONDÉ

O homem comum

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O que falta em mim é o medo que está por trás da unanimidade bem comportada
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COMO DIZIA o filósofo alemão Franz Rosenzweig (1886 -1929): "Hoje só me interessa o que as pessoas comuns me perguntam". Como ele, não me interessa mais me esconder atrás de alguma teoria pra negar minha insegurança. Segundo o crítico literário canadense Northop Frye (século 20), muitos acadêmicos são pessoas inseguras que se escondem atrás de teorias porque não são capazes de falar em primeira pessoa. Sendo medrosos e pouco criativos, morremos de medo da opinião dos pares. Ao final, o que importa é o corporativismo e o aniquilamento dos desafetos.
Sei que o leitor irritado pensa que sou um elitista. Reconheço minha culpa, minha máxima culpa: tenho dado razão pra que você pense assim. Mas, como diz um personagem interpretado pelo ator Harrison Ford no filme "Divisão de Homicídios", quando é chamado por um subalterno de "sir": "Don't call me sir, I work for living" (não me chame de "sir", eu trabalho pra sobreviver).
Esse é o meu caso, sou um nordestino, entre tantos, que veio pra São Paulo e aqui me virei como pude, fazendo contas todo mês e lidando com medos e crises repetidas de baixa autoestima ao longo do caminho. Como todo mortal, faço o que posso diante da opacidade do mundo e da mentira geral que permeia a ordem das coisas.
Mas não sou um pessimista. Existe a beleza e a generosidade no mundo, elas se misturam a tudo mais, como o ouro se mistura ao lixo, à lama e à violência do garimpo. O próprio fato de que hoje estou aqui falando com você é a prova cabal de que não posso negar a felicidade e o sucesso que existem como possibilidade na vida dos homens comuns.
O que a leitora indignada não entende é que não compactuo com a repressão que hoje tende a destruir o pensamento livre em nome dos ofendidos. Mas não pense que, por isso, eu acredite que esteja "construindo um mundo melhor", porque não compactuo com esta ditadura dos ofendidos. Não acredito num mundo melhor. Como diz meu filho médico de 26 anos: "O sofrimento é uma constante, quando sai de um lugar, aparece em outro". O fato de eu não compactuar com a mentira do bom-mocismo é, em mim, uma condição quase fisiológica, sai como um grito de horror incontrolável. Não é uma virtude, é um vício. É uma dor que pede alívio imediato.
Quer exemplos de máximas que me fazem urrar de dor? "Todos os homens são iguais e legais", "não diga coisas que façam as pessoas desacreditarem em si mesmas", "o mal é uma construção social e não uma constante da natureza humana", "não existem culturas melhores do que outras", "jornalistas de respeito não falam coisas feias em seus artigos", "as mulheres não estão solitárias em suas carreiras profissionais bem-sucedidas", "os homens modernos não sentem que são manipulados pelas mulheres, agora emancipadas, mas que continuem a fazer chantagens emocionais como suas avós faziam pra submetê-los a sua vontade dominadora", "a natureza é uma mãe".
O que falta em mim é o medo que está por trás da unanimidade bem comportada. Não tenho medo que usem contra mim clichês bobos como machista, elitista, fascista, racista. Não sou nada disso, como todo brasileiro, sou uma mistura de europeu, índio e negro. Como todo mundo, tenho alguns preconceitos e quem diz que não os têm são os verdadeiros preconceituosos.
Vou continuar a falar coisas que a ditadura dos ofendidos detesta e eles vão continuar a tentar destruir a liberdade de pensamento, mesmo que se digam defensores da democracia. Se existe alguma democracia defendida pela ditadura dos ofendidos é a democracia da mediocridade, do silêncio e do medo.
Quando falo em pessoas comuns, penso no homem comum do livro "O Homem Comum", de Philip Roth. Penso naquele homem ou naquela mulher que, quando vai ao cemitério e vê um caixão baixando ao solo, inevitavelmente sente um frio na barriga e um desespero na alma. Penso naquela mulher que se vê abandonada depois de anos de dedicação a um homem só porque chegou aos 40 anos e porque não consegue mais sorrir tão fácil. Penso naquele homem que sabe que sua vida está pendurada por uma corda que aperta seu pescoço cada vez que os juros do seu cartão de crédito sobem. Penso naquele idoso que não vê mais seus filhos porque envelheceu pobre.
Penso, enfim, em você, aí sozinho, tomando café da manhã, sonhando com um amor que não existe, com uma família perdida e com um sucesso efêmero como o vento. Imerso na solidão de todos nós.

Meninas Fáceis

LUIZ FELIPE PONDÉ

Meninas fáceis

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Hoje há muita mulher sozinha que se veste pra si mesma num ritual macabro de vaidade
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E AÍ, leitor de 15 anos? Diga-me cá uma coisa: é verdade que as meninas hoje transam muito? Quantas já deram em cima de você, fazendo você se sentir um frouxo se "não comparecer" quando ela quiser?
Atenção terapeutas de plantão: não me venham dizer que as meninas hoje em dia "evoluíram" e que querem meninos sensíveis, porque, para elas, meninos sensíveis só são bons para tirar sarro. E que fiquem fora da cama delas. Ou seria fora do carro delas? E aí, leitora de 40 anos, você acha esse papo muito vulgar?
Sinto muito, as meninas "evoluíram" e agora são senhoras dos seus desejos e isso basicamente quer dizer: são fáceis. Quer saber? Acho uma hipocrisia ficar lamentando que as meninas estejam transando por aí. Todo esse estardalhaço com relação "as pulseiras do sexo" é puro blá-blá-blá. Se as meninas estão transando por aí, é porque dissemos a elas que isso é legal, não?
Vejamos. Mas, antes, um reparo.
Repito o que já disse: não acredito que se faça melhor sexo hoje em dia, acho sim que hoje existe muito marketing, muito papo furado, muita mulher sozinha que se veste pra si mesma num ritual macabro de vaidade e... muita gente brocha.
A chamada "revolução do desejo" serve para ganhar dinheiro com publicidade, livros de sexo chique e para aumentar a sensação, em seres humanos reais, de que todo mundo está transando menos você.
Mães de 50 anos se deliciam em vender a imagem de si mesmas como máquinas de sexo. Na realidade, no silêncio de seu quarto escuro, são umas invejosas, que queriam ser como suas filhas: mulheres fáceis.
Professoras inseguras com seus corpos cansados, atônitas com a inutilidade última de toda sua inteligência diante da chacina que é a vida cotidiana, invejam as suas alunas deliciosas que desfilam pernas e seios por aí, dançando a dança do acasalamento. Sim, deveriam tê-las avisado que a vida se repete exatamente naquilo em que ela é miserável: medo, inveja, baixa autoestima e abandono.
Cursos chiques trabalham o corpo para que ele seja fácil de manipular na cama, no carro, no banheiro.
Teorias psicológicas e filosóficas empacotam a vontade de ser fácil em papel de presente fingindo que existe mesmo uma coisa chamada "sexo revolucionário". E aí, quando os padres fazem sexo com meninos, os revolucionários de meia pataca põem o rabo entre as pernas e se escondem porque não têm coragem de enfrentar o horror do sexo "livre".
Não existe sexo livre, existe apenas sexo sem amor.
Comédias de TV idealizam mulheres urbanas que transam assim como quem corre em esteiras aeróbicas (ou seriam "anaeróbicas"?), calculando o "tamanho" de seus homens, se gabando, assim como homens boçais, da quantidade de vezes que gozam.
Músicas nas festas das escolas e nos aniversários de crianças cantam a banalidade dos gestos sexuais, fixando os olhos vazados das meninas no desejo de crescer o bastante para serem fáceis. Programas infantis ensinam a vulgaridade como forma de liberdade corporal na frente das câmeras. Programas "teens" de TV elevam ao grau de guru quem transa aos dez anos, contanto que use camisinha. Pedagogas, sob o signo de preparar para a vida, barateiam os corpos das meninas ensinando sexo fácil como se fosse sexo seguro.
Salvem as baleias, as focas, o verde, o planeta, os "baby monkeys", mas transem fácil.
A forma como o aborto é tratado (todo mundo é a favor, menos os "tolinhos") é prova de como o sexo e as meninas são artigo vendido às dúzias nas feiras de periferia. É isso aí: mulher fácil é mulher barata. Tem mais mulher do que homem no mundo (não estou seguro dessa informação, mas todo mundo diz que sim, principalmente as mulheres solitárias) e, com a liberação delas, o preço ainda caiu mais. A melhor coisa que existe para um cara que quer uma mulher barata é que ela pague suas contas.
Alguém precisa parar de mentir e avisar para essas meninas que a vida é uma chacina cotidiana. Que o envelhecimento chega sem que você espere, que o mundo fica repetitivo com o tempo, que as pessoas ficam previsíveis e que sexo fácil é sempre sexo sem amor. Avisem a elas que o amor é raro, difícil, caro, duro de encontrar, morre fácil, porque é sempre mal-adaptado num ambiente mais afeito a baratas do que a seres humanos.
Enfim, que uma das lutas contínuas da civilização é contra a indiferença porque homens e mulheres não são especiais e existem às dúzias por aí, a gargalhadas, como bonecos de cera sem graça.